segunda-feira, 28 de abril de 2014

Relato do Encontro em 28/04


Neste terceiro encontro foi analisado e debatido o Prólogo à Edição Russa e  também iniciado a discussão do capítulo 01 de "Psicologia Pedagógica" de L.S. Vigotski. 
No Prólogo Vigotski destaca a importância da teoria dos reflexos condicionados servir como ponto de partida ou como base para construção de uma nova psicologia, e não descartando-a totalmente, nem tão pouco denominando-a de a nova psicologia como muitos de sua época o faziam. O autor destaca ainda a possibilidade de criação de um  processo educativo através de uma interface entre o biológico e o social .


"Por isso, a teoria dos reflexos condicionados não pode constituir a única base e o exclusivo fundamento para o presente curso. Ao analisar e descrever as formas mais complexas da conduta, é preciso utilizar plenamente todo o material científico fidedigno da  psicologia anterior, traduzindo os velhos conceitos para a nova linguagem" (VIGOTSKI, p.34, 2003)

Esta talvez seja uma das maiores qualidades de Vigotski, a de resignificar e dar novos sentidos às teorias anteriores, não anulando a "velha teoria", mas, a partir delas, consegue promover o desenvolvimento e a criação de novos conceitos e idéias. Ao citar Munsterberg, ele fala a respeito da questão motora e também dos fenômenos reflexos, dando destaque ao processo do movimento que precede o pensamento, denotando a importância do ato motor: "pensamos porque agimos" (MUNSTERBERG apud VIGOTSKI, 2003). No entanto ele destaca que mesmo apesar do destaque dado ao aspecto motor pela psicologia da época, ela ainda continuava presa ao dualismo e ao espiritualismo da psicologia empírica. Vigotski aproveita ainda para tecer duros comentários à psicologia norte americana bastante em voga na época (comportamentalismo):

"Esses psicólogos entendem por comportamento todo o conjunto de movimentos, internos e externos, de um ser vivo. A psicologia apóia-se no fato, estabelecido há bastante tempo, de que todo o estado da consciência vincula-se inevitavelmente a alguns movimentos. Em outros termos, todos os fenômenos pisíquicos que ocorrem no organismo podem ser estudados a partir do aspecto do movimento" (VIGOTSKI, p. 39, 2003)

Já no início do primeiro capítulo o autor relata sobre a grave crise em que passa a ciência (psicologia) durante as primeiras décadas do século XX. Vigotski propõe uma abordagem dialética sobre a atual crise, resgatando o "velho material" e procurando compreender os fatos e leis anteriores sob a ótica de novos significados e critérios, ou seja, dar novos significados aos conceitos e leituras da velha psicologia, na tentativa de criar a "nova ciência", que segundo o próprio autor, naquele momento afundava em uma grave crise de seus próprios fundamentos, mas que também encontrava-se em seu período de estruturação inicial. 
Vigotski inicia  o capítulo primeiro  trazendo o conceito de educação segundo Blonski, onde "a educação é a influência premeditada, organizada e prolongada no desenvolvimento de um organismo" (BLONSKI apud VIGOTSKI, 2003). O autor relata ainda a importância de se estabelecer com precisão e clareza em todo o processo pedagógico,   a organização, as formas e os procedimentos para a sua orientação efetiva, assim como também, destaca a preocupação na compreensão dos processos biossociais de desenvolvimento do organismo a ser influenciado. Vigotski enfatiza no texto a compreensão do homem dentro de uma perspectiva "biossocial". Segundo Vigotski a grave crise na ciência [psicológica] de sua época refere-se à forte herança do pensamento primitivo e religioso, ou seja, da perpetuação do  dualismo corpo-mente, do espiritualismo metafísico, que considerava a psique humana isolada e divorciada da vida real, com suas abstrações e ficções, e no outro extremo a também forte influência positivista da psicologia norte-americana, em referência à teoria comportamentalista, que considerava o comportamento apenas como interações mecânicas e lineares com o meio.
Vigotski refuta o reducionismo e o biologicismo da psicologia de sua época ao querer explicar o comportamento humano com base apenas em seu aspecto comportamental-biológico, generalizando o teoria dos reflexos-condicionados para explicar todas as funções psicológicas superiores, o que ele denomina de "Abra-te Sésamo!". Vigotski relata ainda a "caricatura" que faz a ciência comportamentalista ao relacionar de forma linear os aspectos motores ao desenvolvimento das funções psicológicas.

"Portanto, a psicologia está se transformando em uma ciência biológica, pois estuda o comportamento como uma das formas mais importantes de adaptação do organismo vivo ao ambiente. Por isso, considera que o comportamento é o processo de interação entre o organismo e o ambiente, e o princípio de utilidade biológica do psiquismo passa a ser seu princípio explicativo." (VIGOTSKI, p.39, 2003)

Porém, Vigotski defende a tese onde somente é possível compreender o comportamento humano  em sua totalidade quando se considera o desenvolvimento dentro do complexo contexto de seu ambiente social, ou seja, o homem num contexto biossocial.
A nova psicologia, segundo Vigotski, deve possuir características importantes, tais como: o materialismo -  a conduta humana deve ser observada a partir dos movimentos e reações de um ser material (o homem como ser material inconcluso); a objetividade - verificação sistemática e objetiva da realidade; a dialética - os processos psíquicos se relacionam com todos os demais processos no organismo (meio, cultura, biológico, etc.) e se inter-relacionam de forma dinâmica e indestrutível; e por fim a base biossocial - onde o comportamento do ser humano deve ser observado dentro do complexo contexto do seu ambiente social. 

PRÓXIMO ENCONTRO: 12/05 - segunda-feira - sala 12 - UEG ESEFFEGO
(CONTINUAÇÃO DO CAPÍTULO 01)

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