sábado, 16 de agosto de 2014
sexta-feira, 15 de agosto de 2014
O LIVRO "PSICOLOGIA PEDAGÓGICA" DE VIGOTSKI
INTRODUÇÃO
O Grupo de Estudos e
Pesquisas L.S. Vigotski UEG-ESEFFEGO surgiu
no ano de 2012 com a participação de alunos e professores do curso de
licenciatura ampliada do curso de Educação Física vinculado à Universidade
Estadual de Goiás - ESEFFEGO em Goiânia-GO. A proposta do grupo é a promoção de
pesquisas, estudos e debates sobre as obras de Vigotski.
No ano de 2014 iniciamos o estudo da obra "Psicologia Pedagógica"
publicada por Vigotski em 1926. Os estudos
se baseiam na edição publicada pela editora ARTMED em português (traduzido por
Claudia Scilling) e também em
leituras complementares de autores como Z. Prestes, J.B. Martins e G. Toassa. Esta pesquisa,
ainda em andamento, visa analisar o contexto histórico em que a primeira obra
publicada por Vigotski, "Psicologia
Pedagógica", foi escrita, compreender também as motivações e intenções do
autor ao escrever este livro, verificar quais as influências presentes no texto
vigotskiano, identificar a importância da obra para a
construção da teoria histórico-cultural e ainda analisar as reais
possibilidades e limitações para a sua utilização na formação de professores no
curso de licenciatura ampliada da UEG-ESEFFEGO. Vigotski
reconheceu a grave crise na ciência de sua época através da herança do
espiritualismo metafísico, do dualismo corpo-mente e também da forte influência
da psicologia positivista norte americana, que provocaram o divórcio entre a
psique humana e a vida real. Vigotski propôs, a partir
desta obra, as bases para uma nova psicologia pautada na teoria marxista,
passando a considerar as experiências históricas e sociais do homem, um ser
biossocial.
A efervescência da
Rússia revolucionária e pós-revolucionária no início do século XX contagia os
escritos de Vigotski, que utilizando o materialismo histórico
dialético, aponta alternativas para a crise instalada na psicologia pautada
no mecanicismo, na linearidade e na
fragmentação das teorias vinculadas exclusivamente nos chamados reflexos
condicionados. Vigotski relata em seus
escritos sobre a grave crise da psicologia de sua época, alicerçada
exclusivamente no mecanicismo linear dos
reflexos condicionados, que por sua vez, não eram capazes de explicar sozinhos
os processos psicológicos mais complexos. Mas, Vigotski
apontava que tais concepções biológicas
constituíam o ponto de partida para novos estudos. A principal intenção
de Vigotski era a criação de uma
psicologia "biossocial", capaz de transpor as fronteiras do
apenas biológico e de vislumbrar o homem
em sua completude ominilateral.
Por isso, a teoria dos reflexos
condicionados não pode constituir a única base e o exclusivo fundamento para o
presente curso.
Ao analisar e descrever as formas mais
complexas da conduta, é preciso utilizar plenamente todo o material científico
fidedigno da
psicologia anterior, traduzindo os velhos
conceitos para a nova linguagem (VIGOTSKI, p.34, 2003).
No livro “Psicologia
Pedagógica”, Vigotski consegue de forma
magistral ressignificar e dar novos sentidos
às teorias anteriores, não anulando a
"velha teoria", mas, a partir delas, conseguiu promover o
desenvolvimento e a criação de novos
conceitos e idéias. Vigotski fez também duras críticas e comentários à
psicologia positivista norte-americana, muito difundida na época, denominada de
comportamentalista:
Esses psicólogos entendem por comportamento
todo o conjunto de movimentos, internos e externos, de um ser vivo. A
psicologia apóia-se no fato, estabelecido há bastante tempo, de que todo o
estado da consciência vincula-se inevitavelmente a alguns movimentos. Em outros
termos, todos os fenômenos psíquicos que ocorrem no organismo podem ser
estudados a partir do aspecto do movimento (VIGOTSKI, p. 39, 2003).
Neste livro, Vigotski tece importantes
comentários sobre a grave crise em que
passava a ciência (psicologia) durante as primeiras décadas do século XX. Vigotski propôs uma abordagem
dialética afim de suplantar esta crise, resgatando o "velho material"
e procurando compreender os fatos e leis anteriores sob a ótica de novos
significados e critérios, ou seja, dando novos significados aos conceitos e leituras
da velha psicologia, na tentativa de criar a "nova ciência", que
segundo o próprio autor, naquele momento afundava em uma grave crise de
seus próprios fundamentos, mas que também, contraditoriamente encontrava-se
em seu período de estruturação inicial. Vigotski enfatiza em seu
livro a compreensão do homem dentro de uma perspectiva "biossocial".
Segundo Vigotski a grave crise na
ciência [psicológica] de sua época era decorrente da forte herança do
pensamento primitivo e religioso, ou seja, da perpetuação do dualismo
corpo-mente, do espiritualismo metafísico, que considerava a psique humana
isolada e divorciada da vida real, com suas abstrações e ficções, e no outro
extremo a forte influência positivista da psicologia norte-americana, em
referência à teoria comportamentalista, que considerava o comportamento apenas
como interações mecânicas e lineares com o meio. Vigotski
refuta o reducionismo e o biologicismo da psicologia de sua
época ao querer explicar o comportamento humano com base apenas em seu aspecto
comportamental-biológico, generalizando o teoria dos reflexos-condicionados
para explicar todas as funções psicológicas superiores, o que ele denomina de
"Abra-te
Sésamo!". Vigotski relata ainda a
"caricatura" que faz a ciência comportamentalista ao relacionar de
forma linear os aspectos motores ao desenvolvimento das funções psicológicas.
Portanto, a psicologia está se
transformando em uma ciência biológica, pois estuda o comportamento como uma
das formas mais importantes de adaptação do organismo vivo ao ambiente. Por
isso, considera que o comportamento é o processo de interação entre o organismo
e o ambiente, e o princípio de utilidade biológica do psiquismo passa a ser seu
princípio explicativo (VIGOTSKI, p.39, 2003).
Vigotski defende no livro a
tese onde somente é possível compreender o comportamento humano
em sua totalidade quando se considera o desenvolvimento dentro do
complexo contexto de seu ambiente social, ou seja, o homem num contexto
biossocial. A nova psicologia, segundo Vigotski,
deveria então possuir características importantes, tais como: o materialismo - a conduta humana deve ser observada a partir dos
movimentos e reações de um ser material (o homem como ser material inconcluso);
a objetividade - verificação
sistemática e objetiva da realidade; a dialética - os processos
psíquicos se relacionam com todos os demais processos no organismo (meio,
cultura, biológico, etc.) e se inter-relacionam de forma dinâmica
e indestrutível; e por fim a base biossocial - onde o
comportamento do ser humano deve ser observado dentro do complexo contexto do
seu ambiente social.
OBJETIVOS
Os objetivos desta
pesquisa, ainda em andamento, são de analisar o contexto histórico em que a
primeira obra publicada por Vigotski "Psicologia Pedagógica", foi
escrita, compreender também as motivações e intenções do autor ao escrever este
livro, verificar quais as influências
presentes no texto vigotskiano; identificar a
importância da obra para a construção da teoria histórico-cultural e ainda analisar as reais possibilidades e limitações
para a sua utilização na formação de professores no curso de licenciatura ampliada
da UEG-ESEFFEGO.
METODOLOGIA
Nesta pesquisa utilizamos o materialismo histórico dialético como referência para os estudos. Os debates
sobre o livro “Psicologia Pedagógica são
realizados dentro do Grupo de
Estudos e Pesquisas L. S. Vigotski – UEG ESEFFEGO, com encontros semanais e com cerca de duas horas e meia de duração. As leituras são
realizadas previamente e nos encontros quinzenais são realizados os debates e
discussões sobre os capítulos do livro.
São realizadas análises e interpretações do texto de Vigotski, utilizando ainda
leituras complementares de autores como TOASSA, G.; MARTINS, J. B. e PRESTES, Z., como forma de auxiílio para leitura e
interpretação do livro “Psicologia Pedagógica”. Após os encontros, todas as
discussões e interpretações são
transcritas em forma de relato e postadas no blog do grupo L.S. Vigotski e disponibilizadas para a comunidade em
geral (www.vigotskiueg.blogspot.com.br).
ANÁLISE E RESULTADOS INTRODUTÓRIOS
No livro “Psicologia
Pedagógica”, Vigotski aborda os mais
diferentes temas, sendo capaz de realizar uma estreita relação entre a teoria e
a prática, dando ênfase aos processos de ensino-aprendizagem e também dando
destaque à cultura escolar e aos assuntos educacionais orientados por
princípios marxianos (TOASSA, 2013). No
primeiro capítulo do livro “Psicologia Pedagógica” Vigotski destaca a crise
estrutural por que passava a ciência psicológica de sua época, mostrando que
uma psicologia pautada apenas em abstrações e ficções, e ainda separando a
psique humana de forma isolada do comportamento, não era capaz de originar uma
psicologia pedagógica, já que era completamente divorciada da vida real. Ainda
segundo TOASSA (2013), a posição teórica de Vigotski
neste momento de sua obra possui função prática, entretanto, o mesmo não
negligencia a velha psicologia, colocando assim “vinhos novos em odres velhos”, permitindo
compreender assim a presença em seu livro de autores como W. James, W. Wundt ou mesmo o alemão H.
Munsterberg. Por outro
lado, a crise que engessava a psicologia
dentro do biologicismo comportamentalista
da época, foi também duramente criticada e colocada em xeque por Vigotski em seu livro. O
autor joga nova luz sobre os conceitos da velha psicologia, numa tentativa de
explicar e compreender os fatos e leis anteriores, sobre um novo olhar, com uma
nova linguagem e ainda pautados em novos critérios, numa incansável tentativa de
superar a “grave crise de seus próprios fundamentos”.
A psicologia anterior, que considerava a
psique de forma isolada do comportamento, não podia encontrar o terreno
verdadeiro para uma ciência aplicada. Ao contrário, ao se dedicar a ficções e
abstrações, ela sempre se divorciava da vida real e, por isso, era impotente
para se tornar a fonte que daria origem a uma psicologia pedagógica. Toda
ciência surge das demandas práticas e, em última instância, também se orienta
para a prática. Marx dizia que os filósofos só tinham interpretado o mundo, e
que já estava na hora de transformá-lo. Essa hora chega para todas as ciências
(VIGOTSKI, p. 43, 2003).
Segundo Prestes
(2012), é justamente neste livro que Vigotski,
através de uma abordagem dialética, inicia suas
reflexões sobre as
influências do ambiente social sobre o desenvolvimento humano. Vigotski, frente à grande
crise da psicologia, também propõe a superação do idealismo contemplativo para
uma ciência de características
biossociais.
[...] Entretanto, o
comportamento do ser humano se desenvolve no complexo contexto
do ambiente social (VIGOTSKI, p.39, 2003).
Para Vigotski a nova psicologia
deveria estar pautada em quatro pilares básicos, chamados por ele de os
"traços distintivos da nova psicologia", que são: o Materialismo, a Objetividade, a
Dialética e a base Biossocial. Vigotski propõe as bases da
nova psicologia pautadas no materialismo histórico dialético, tomando como
ponto de partida os "velhos" conceitos da psicologia
comportamentalista da época, dando-lhe novos sentidos e significados dentro de
uma nova psicologia marxista, que não desconsideraria os aspectos biológicos,
nem tão pouco negligenciaria os condicionantes sociais, econômicos e
culturais.
O primeiro passo distintivo da nova
psicologia é seu materialismo, porque examina toda a conduta do ser
humano como uma série de movimentos e reações que possui todas as propriedades
de um ser material. Sua segunda característica é a objetividade, pois
coloca como condição indispensável para suas pesquisas a exigência de que estas
se baseiem na verificação objetiva do material. A terceira característica é o
seu método dialético, que reconhece que os métodos psíquicos se desenvolvem em
uma vinculação indestrutível com todos os demais processos no organismo e que
estão subordinados exatamente às mesmas leis de desenvolvimento que regem tudo
o que existe na natureza. E, finalmente a última característica é a base
biossocial, cujo significado já foi definido
(VIGOTSKI, p.40, 2003).
REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO
MARTINS, J.B. A Importância do Livro Psicologia
Pedagógica Para a Teoria
Histórico-Cultural de Vigotski. Análise
Psicológica. Lisboa, v. 28, n. 2,
p.343-357. 2010.
PRESTES, Z..; TUNES, E. A
Trajetória de Obras de Vigotski: um longo percurso
até os originais. Estudos de Psicologia . Campinas, v.29, n.3, p. 327-340, jul/set. 2012.
TOASSA, G. A Psicologia Pedagógica de Vigotski -
considerações introdutórias. Nuances: estudos sobre educação. Presidente
Prudente, v.24, n.1, p. 64-72, jan/abr. 2013.
VIGOTSKI, L.S. Psicologia
Pedagógica. Porto Alegre,: Artmed, 2003.
MOÇÃO DE APOIO À GREVE DAS UNIVERSIDADES ESTADUAIS PAULISTAS
Moção
de Apoio da UEG UnU ESEFFEGO à Greve das Universidades Estaduais Paulistas
A Unidade Universitária
Goiânia ESEFFEGO, pertencente à Universidade Estadual de Goiás vem publicamente
expressar através deste documento, o total apoio à greve das universidades
estaduais paulista (UNESP, USP e UNICAMP) e também total repúdio ao Governo do
Estado de São Paulo pela promoção acelerada da precarização, sucateamento e
abandono das universidades públicas no estado.
O atual estágio de
sucateamento das universidades públicas e também da intensificação da
precarização do trabalho no ensino superior é um problema recorrente não
somente em Goiás ou São Paulo, mas em todo o país, onde cada vez mais os
reflexos das investidas das políticas neoliberais na educação são evidenciadas
em nosso cotidiano através do desmanche das políticas de assistência estudantil,
pelo aumento da precarização do trabalho docente, pela diminuição dos
investimentos em infra-estrutura e também através das políticas privatistas. A
clara intenção destas políticas neoliberais promovidas tanto pelo governo
federal, quanto pelos governos estaduais é tão somente a mercantilização da
educação e a implementação da lógica de mercado dentro das universidades
públicas, visando transformar a educação em negócio e os estudantes em meros
clientes.
Durante o ano de 2013 a
Universidade Estadual de Goiás realizou a maior greve de sua história, com
duração de 89 dias, onde estudantes, professores e funcionários lutaram juntos
através de uma pauta unificada, obtendo grande êxito ao final, com vários itens
da pauta sendo atendidas. Ressaltamos também que não por mera coincidência, durante
aquele ano de 2013 realizamos uma intensa experiência política de colaboração,
união e de solidariedade com os estudantes das UNESP’s, que também se
encontravam em greve naquele mesmo ano,
onde realizamos manifestações em conjunto, promovendo uma greve que ultrapassou
os limites das fronteiras dos dois estados.
Hoje, mais uma vez, nos solidarizamos
com a greve geral de pauta unificada entre professores, estudantes e
funcionários das universidades estaduais paulistas, que lutam contra as
políticas públicas neoliberais do governo de Geraldo Alckmin (PSDB), pelo
reajuste salarial para docentes e funcionários técnicos administrativos, por
maiores investimentos financeiros nas políticas de assistência estudantil,
contra o sucateamento das universidades públicas, pelo aumento do percentual de
investimentos a ser repassado pelo governo de São Paulo às universidades
públicas paulistas e contra o projeto de privatização do ensino superior neste
estado.
Apoiamos ainda a ocupação de
prédios, salas e das moradias por estudantes em greve e condenamos publicamente
a expulsão, por parte da direção, de alunos que residem nas moradias estudantis
das UNESP’s.
Repudiamos as ameaças do
governo ao direito de greve e à realização de piquetes nas universidades
paulistas, pois a greve é um direito
fundamental, garantido a todos os trabalhadores pela Constituição Federal.
Repudiamos também o corte de ponto dos trabalhadores em greve, a criminalização
dos estudantes, que atualmente estão sofrendo processos de sindicância e processos
judiciários por participarem dos movimentos de greve, e por último repudiamos
também os cortes nas verbas das políticas de permanência estudantil nas
universidades estaduais paulistas.
Nossa luta é por uma universidade
pública, gratuita e de qualidade em todo o Brasil, onde a classe trabalhadora
tenha plenas condições de acessoe também de permanência no ensino superior, no
intuito de fazer da educação um instrumento de emancipação dos trabalhadores e
uma arma que auxilie na libertação da violência e
opressão da atual sociedade de classes.
Goiânia, agosto de 2014.
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