sexta-feira, 15 de agosto de 2014

O LIVRO "PSICOLOGIA PEDAGÓGICA" DE VIGOTSKI



INTRODUÇÃO

O Grupo de Estudos e Pesquisas L.S. Vigotski UEG-ESEFFEGO surgiu no ano de 2012 com a participação de alunos e professores do curso de licenciatura ampliada do curso de Educação Física vinculado à Universidade Estadual de Goiás - ESEFFEGO em Goiânia-GO. A proposta do grupo é a promoção de pesquisas, estudos e debates sobre as obras de Vigotski. No ano de 2014 iniciamos o estudo da obra "Psicologia Pedagógica" publicada por Vigotski em 1926. Os estudos se baseiam na edição publicada pela editora ARTMED em português (traduzido por Claudia Scilling) e também em leituras complementares de autores como Z. Prestes, J.B. Martins e G. Toassa. Esta pesquisa, ainda em andamento, visa analisar o contexto histórico em que a primeira obra publicada por Vigotski, "Psicologia Pedagógica", foi escrita, compreender também as motivações e intenções do autor ao escrever este livro, verificar quais as influências presentes no texto vigotskiano,  identificar a importância da obra para a construção da teoria histórico-cultural e ainda analisar as reais possibilidades e limitações para a sua utilização na formação de professores no curso de licenciatura ampliada da UEG-ESEFFEGO. Vigotski reconheceu a grave crise na ciência de sua época através da herança do espiritualismo metafísico, do dualismo corpo-mente e também da forte influência da psicologia positivista norte americana, que provocaram o divórcio entre a psique humana e a vida real. Vigotski propôs, a partir desta obra, as bases para uma nova psicologia pautada na teoria marxista, passando a considerar as experiências históricas e sociais do homem, um ser biossocial.
A efervescência da Rússia revolucionária e pós-revolucionária no início do século XX contagia os escritos de Vigotski,  que utilizando o materialismo histórico dialético, aponta alternativas para a crise instalada na psicologia pautada no  mecanicismo, na linearidade e na fragmentação das teorias vinculadas exclusivamente nos chamados reflexos condicionados. Vigotski relata em seus escritos sobre a grave crise da psicologia de sua época, alicerçada exclusivamente no mecanicismo  linear dos reflexos condicionados, que por sua vez, não eram capazes de explicar sozinhos os processos psicológicos mais complexos. Mas, Vigotski apontava  que tais concepções biológicas constituíam  o ponto de partida para novos estudos. A principal intenção de Vigotski era a criação de uma psicologia "biossocial", capaz de transpor as fronteiras do apenas  biológico e de vislumbrar o homem em sua completude ominilateral.
 
 
Por isso, a teoria dos reflexos condicionados não pode constituir a única base e o exclusivo fundamento para o presente curso.
Ao analisar e descrever as formas mais complexas da conduta, é preciso utilizar plenamente todo o material científico fidedigno da  
psicologia anterior, traduzindo os velhos conceitos para a nova linguagem (VIGOTSKI, p.34, 2003).

No livro “Psicologia Pedagógica”, Vigotski consegue de forma magistral ressignificar e dar novos sentidos às teorias anteriores, não  anulando a "velha teoria", mas, a partir delas, conseguiu promover o desenvolvimento e a  criação de novos conceitos e idéias. Vigotski fez  também duras críticas e comentários à psicologia positivista norte-americana, muito difundida na época, denominada de comportamentalista:
 
Esses psicólogos entendem por comportamento todo o conjunto de movimentos, internos e externos, de um ser vivo. A psicologia apóia-se no fato, estabelecido há bastante tempo, de que todo o estado da consciência vincula-se inevitavelmente a alguns movimentos. Em outros termos, todos os fenômenos psíquicos que ocorrem no organismo podem ser estudados a partir do aspecto do movimento (VIGOTSKI, p. 39, 2003).

Neste livro, Vigotski tece importantes comentários  sobre a grave crise em que passava a ciência (psicologia) durante as primeiras décadas do século XX. Vigotski propôs uma abordagem dialética afim de suplantar esta crise, resgatando o "velho material" e procurando compreender os fatos e leis anteriores sob a ótica de novos significados e critérios, ou seja, dando novos significados aos conceitos e leituras da velha psicologia, na tentativa de criar a "nova ciência", que segundo o próprio autor, naquele momento afundava em uma grave crise de seus próprios fundamentos, mas que também, contraditoriamente encontrava-se em seu período de estruturação inicial.  Vigotski enfatiza em seu livro a compreensão do homem dentro de uma perspectiva "biossocial". Segundo Vigotski a grave crise na ciência [psicológica] de sua época era decorrente da forte herança do pensamento primitivo e religioso, ou seja, da perpetuação do  dualismo corpo-mente, do espiritualismo metafísico, que considerava a psique humana isolada e divorciada da vida real, com suas abstrações e ficções, e no outro extremo a forte influência positivista da psicologia norte-americana, em referência à teoria comportamentalista, que considerava o comportamento apenas como interações mecânicas e lineares com o meio. Vigotski refuta o reducionismo e o biologicismo da psicologia de sua época ao querer explicar o comportamento humano com base apenas em seu aspecto comportamental-biológico, generalizando o teoria dos reflexos-condicionados para explicar todas as funções psicológicas superiores, o que ele denomina de "Abra-te Sésamo!". Vigotski relata ainda a "caricatura" que faz a ciência comportamentalista ao relacionar de forma linear os aspectos motores ao desenvolvimento das funções psicológicas.


Portanto, a psicologia está se transformando em uma ciência biológica, pois estuda o comportamento como uma das formas mais importantes de adaptação do organismo vivo ao ambiente. Por isso, considera que o comportamento é o processo de interação entre o organismo e o ambiente, e o princípio de utilidade biológica do psiquismo passa a ser seu princípio explicativo (VIGOTSKI, p.39, 2003).
 

Vigotski defende no livro a tese onde somente é possível compreender o comportamento humano  em sua totalidade quando se considera o desenvolvimento dentro do complexo contexto de seu ambiente social, ou seja, o homem num contexto biossocial. A nova psicologia, segundo Vigotski, deveria então possuir características importantes, tais como: o materialismo -  a conduta humana deve ser observada a partir dos movimentos e reações de um ser material (o homem como ser material inconcluso); a objetividade - verificação sistemática e objetiva da realidade; a dialética - os processos psíquicos se relacionam com todos os demais processos no organismo (meio, cultura, biológico, etc.) e se inter-relacionam de forma dinâmica e indestrutível; e por fim a base biossocial - onde o comportamento do ser humano deve ser observado dentro do complexo contexto do seu ambiente social. 

OBJETIVOS

Os objetivos desta pesquisa, ainda em andamento, são de analisar o contexto histórico em que a primeira obra publicada por Vigotski  "Psicologia Pedagógica", foi escrita, compreender também as motivações e intenções do autor ao escrever este livro, verificar  quais as influências presentes no texto vigotskiano; identificar a importância da obra para a construção da teoria histórico-cultural e ainda  analisar as reais possibilidades e limitações para a sua utilização na formação de professores no curso de licenciatura ampliada da UEG-ESEFFEGO.



METODOLOGIA

Nesta pesquisa utilizamos o materialismo histórico dialético como referência para os estudos. Os debates sobre o livro “Psicologia  Pedagógica são realizados  dentro do Grupo de Estudos  e Pesquisas L. S. Vigotski – UEG ESEFFEGO,  com encontros semanais e com cerca de  duas horas e meia de duração. As leituras são realizadas previamente e nos encontros quinzenais são realizados os debates e discussões sobre os capítulos do livro.  São realizadas análises e interpretações do texto de Vigotski, utilizando ainda leituras complementares de autores como TOASSA, G.;  MARTINS, J. B. e PRESTES, Z., como forma de auxiílio para leitura e interpretação do livro “Psicologia Pedagógica”. Após os encontros, todas as discussões e interpretações são  transcritas em forma de relato e postadas no blog do grupo L.S. Vigotski  e disponibilizadas para a comunidade em geral  (www.vigotskiueg.blogspot.com.br).


ANÁLISE E RESULTADOS INTRODUTÓRIOS


No livro “Psicologia Pedagógica”, Vigotski aborda os mais diferentes temas, sendo capaz de realizar uma estreita relação entre a teoria e a prática, dando ênfase aos processos de ensino-aprendizagem e também dando destaque à cultura escolar e aos assuntos educacionais orientados por princípios marxianos (TOASSA, 2013). No primeiro capítulo do livro “Psicologia Pedagógica” Vigotski destaca a crise estrutural por que passava a ciência psicológica de sua época, mostrando que uma psicologia pautada apenas em abstrações e ficções, e ainda separando a psique humana de forma isolada do comportamento, não era capaz de originar uma psicologia pedagógica, já que era completamente divorciada da vida real. Ainda segundo TOASSA (2013), a posição teórica de Vigotski neste momento de sua obra possui função prática, entretanto, o mesmo não negligencia a velha psicologia, colocando assim “vinhos novos em odres velhos”, permitindo compreender assim a presença em seu livro de autores como W. James, W. Wundt ou mesmo o alemão H. Munsterberg. Por outro lado,  a crise que engessava a psicologia dentro do biologicismo comportamentalista da época, foi também duramente criticada e colocada em xeque por Vigotski em seu livro. O autor joga nova luz sobre os conceitos da velha psicologia, numa tentativa de explicar e compreender os fatos e leis anteriores, sobre um novo olhar, com uma nova linguagem e ainda pautados em novos critérios, numa incansável tentativa de superar a “grave crise de seus próprios fundamentos”.


A psicologia anterior, que considerava a psique de forma isolada do comportamento, não podia encontrar o terreno verdadeiro para uma ciência aplicada. Ao contrário, ao se dedicar a ficções e abstrações, ela sempre se divorciava da vida real e, por isso, era impotente para se tornar a fonte que daria origem a uma psicologia pedagógica. Toda ciência surge das demandas práticas e, em última instância, também se orienta para a prática. Marx dizia que os filósofos só tinham interpretado o mundo, e que já estava na hora de transformá-lo. Essa hora chega para todas as ciências (VIGOTSKI, p. 43, 2003).
  
Segundo Prestes (2012), é justamente neste livro que Vigotski, através de uma abordagem dialética, inicia suas
reflexões sobre as influências do ambiente social sobre o desenvolvimento humano. Vigotski, frente à grande crise da psicologia, também propõe a superação do idealismo contemplativo para uma ciência de características
 biossociais.

 [...] Entretanto, o comportamento do ser humano se desenvolve no complexo contexto
do ambiente social (VIGOTSKI, p.39, 2003).
 

Para Vigotski a nova psicologia deveria estar pautada em quatro pilares básicos, chamados por ele de os "traços distintivos da nova psicologia", que  são: o Materialismo, a Objetividade, a Dialética e a base Biossocial. Vigotski propõe as bases da nova psicologia pautadas no materialismo histórico dialético, tomando como ponto de partida os "velhos" conceitos da psicologia comportamentalista da época, dando-lhe novos sentidos e significados dentro de uma nova psicologia marxista, que não desconsideraria os aspectos biológicos, nem tão pouco negligenciaria os condicionantes sociais, econômicos e culturais.

O primeiro passo distintivo da nova psicologia é seu materialismo, porque examina toda a conduta do ser humano como uma série de movimentos e reações que possui todas as propriedades de um ser material. Sua segunda característica é a objetividade, pois coloca como condição indispensável para suas pesquisas a exigência de que estas se baseiem na verificação objetiva do material. A terceira característica é o seu método dialético, que reconhece que os métodos psíquicos se desenvolvem em uma vinculação indestrutível com todos os demais processos no organismo e que estão subordinados exatamente às mesmas leis de desenvolvimento que regem tudo o que existe na natureza. E, finalmente a última característica é a base biossocial, cujo significado já foi definido  (VIGOTSKI, p.40, 2003).



REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO 

MARTINS, J.B.  A Importância do Livro Psicologia Pedagógica  Para a Teoria Histórico-Cultural de Vigotski. Análise Psicológica. Lisboa, v. 28, n. 2, p.343-357. 2010.
PRESTES, Z..; TUNES, E. A Trajetória de Obras de Vigotski: um longo percurso até os originais. Estudos de Psicologia . Campinas, v.29, n.3, p. 327-340, jul/set. 2012.
TOASSA, G.  A Psicologia Pedagógica de Vigotski  -  considerações introdutórias. Nuances: estudos sobre educação. Presidente Prudente, v.24, n.1, p. 64-72, jan/abr. 2013.
VIGOTSKI, L.S. Psicologia Pedagógica. Porto Alegre,: Artmed, 2003.

MOÇÃO DE APOIO À GREVE DAS UNIVERSIDADES ESTADUAIS PAULISTAS




Moção de Apoio da UEG UnU ESEFFEGO à Greve das Universidades Estaduais Paulistas

A Unidade Universitária Goiânia ESEFFEGO, pertencente à Universidade Estadual de Goiás vem publicamente expressar através deste documento, o total apoio à greve das universidades estaduais paulista (UNESP, USP e UNICAMP) e também total repúdio ao Governo do Estado de São Paulo pela promoção acelerada da precarização, sucateamento e abandono das universidades públicas no estado.
O atual estágio de sucateamento das universidades públicas e também da intensificação da precarização do trabalho no ensino superior é um problema recorrente não somente em Goiás ou São Paulo, mas em todo o país, onde cada vez mais os reflexos das investidas das políticas neoliberais na educação são evidenciadas em nosso cotidiano através do desmanche das políticas de assistência estudantil, pelo aumento da precarização do trabalho docente, pela diminuição dos investimentos em infra-estrutura e também através das políticas privatistas. A clara intenção destas políticas neoliberais promovidas tanto pelo governo federal, quanto pelos governos estaduais é tão somente a mercantilização da educação e a implementação da lógica de mercado dentro das universidades públicas, visando transformar a educação em negócio e os estudantes em meros clientes.
Durante o ano de 2013 a Universidade Estadual de Goiás realizou a maior greve de sua história, com duração de 89 dias, onde estudantes, professores e funcionários lutaram juntos através de uma pauta unificada, obtendo grande êxito ao final, com vários itens da pauta sendo atendidas. Ressaltamos também que não por mera coincidência, durante aquele ano de 2013 realizamos uma intensa experiência política de colaboração, união e de solidariedade com os estudantes das UNESP’s, que também se encontravam em greve naquele mesmo  ano, onde realizamos manifestações em conjunto, promovendo uma greve que ultrapassou os limites das fronteiras dos dois estados.
Hoje, mais uma vez, nos solidarizamos com a greve geral de pauta unificada entre professores, estudantes e funcionários das universidades estaduais paulistas, que lutam contra as políticas públicas neoliberais do governo de Geraldo Alckmin (PSDB), pelo reajuste salarial para docentes e funcionários técnicos administrativos, por maiores investimentos financeiros nas políticas de assistência estudantil, contra o sucateamento das universidades públicas, pelo aumento do percentual de investimentos a ser repassado pelo governo de São Paulo às universidades públicas paulistas e contra o projeto de privatização do ensino superior neste estado.
Apoiamos ainda a ocupação de prédios, salas e das moradias por estudantes em greve e condenamos publicamente a expulsão, por parte da direção, de alunos que residem nas moradias estudantis das UNESP’s.
Repudiamos as ameaças do governo ao direito de greve e à realização de piquetes nas universidades paulistas,  pois a greve é um direito fundamental, garantido a todos os trabalhadores pela Constituição Federal. Repudiamos também o corte de ponto dos trabalhadores em greve, a criminalização dos estudantes, que atualmente estão sofrendo processos de sindicância e processos judiciários por participarem dos movimentos de greve, e por último repudiamos também os cortes nas verbas das políticas de permanência estudantil nas universidades estaduais paulistas.
Nossa luta é por uma universidade pública, gratuita e de qualidade em todo o Brasil, onde a classe trabalhadora tenha plenas condições de acessoe também de permanência no ensino superior, no intuito de fazer da educação um instrumento de emancipação dos trabalhadores e uma arma que auxilie na libertação da violência e opressão da atual sociedade de classes.

Goiânia, agosto de 2014.